CONSTRUÇÃO DO ATOR
ATO I
DATA 05/08/2022
PROF. PAULO MICHELOTTO
HÁ MUITO O QUE FALAR.
VOU ESCREVER PARA OS
ALUNOS
VOU ENUMERAR SÓ PARA
ME FACILITAR
1.1.
A ORGANIZAÇÃO DA SEQUÊNCIA DOS ESPETÁCULOS FOI
MUITO BEM FEITA. ABRIR COM PARTILHAR E FECHAR COM GERMINAR FOI UM GOLPE DE MESTRE.
1.2.
ME ENTENDAM: QUEM SOU EU PARA COMPARAR PEÇAS,
ESPETÁCULOS, ATORES. ENTÃO O REGISTRO ACIMA QUER APENAS DIZER QUE OS
ESPETÁCULOS CITADOS MOSTRARAM UMA QUASE-PERFEIÇÃO. DITO DE OUTRA MANEIRA: EU
TERIA A HONRA DE ASSINAR EMBAIXO.
1.3.
DIZENDO UM POUCO MAIS: EU
TRABALHEI 40 ANOS EM UNIVERSIDADES. O ORGULHO QUE TENHO POR ESSE TRABALHO TERIA
SIDO O MESMO SE EU TIVESSE TRABALHADO 40
ANOS NA CONSTRUÇÃO DO ATOR JUNTO COM EMMANUEL E JULIANA.
1.4.
DIZENDO UM POUCO MAIS
AINDA: TIVEMOS O PRAZER
DE ENTRAR, DURANTE UMA NOITE, EM TEXTOS NA MAIORIA NADA FÁCEIS E BONS REPRESENTANTES
DA GRANDEZA DE NOSSA ARTE. FUI PROFESSOR DE DRAMATURGIA, ENTRE OUTRAS COISAS E
POR ISSO MESMO TENHO CERTEZA DE QUE MINHA EXPERIÊNIA FOI AINDA MELHOR QUE A DO
RESTO DO PÚBLICO, POIS SÓ PUDE SENTIR NO PALCO -COMO SE FOSSEM FILHOS MEUS- O TEXTO DE BRUNO, DE EMMANUEL E AS ADAPTAÇÕES
DE EMMANUEL, QUE SEI BEM, POR TÊ-LO FEITO TANTAS VÊZES, O QUANTO É UM TRABALHO
IMPORTANTE E O QUANTO PENOSO TERMOS DE VESTIR A PELE DO AUTOR E ASSIM ABRIGADOS
NOS MUDARMOS TEXTUALMENTE PARA FALAR COM NOSSA TERRA, NOSSA GENTE, NOSSA ÉPOCA.
QUERO MUITO LER TODOS TEXTOS DELES.
1.5.
FECHANDO
ESSAS CONSIDERAÇÕES INICIAIS MAIS GERAIS, PRECISO DIZER- E NÃO É SÓ DE
CORAÇÃO PORQUE PODE PARECER PURA BONDADE MINHA, MAS É DE CÁTEDRA, EM CIMA
DA RAZÃO E DO SABER QUE NOS SUSTENTARAM: EU JÁ PARTICIPEI DE UM SEM NÚMERO DE
APRESENTAÇÕES DE ALUNOS EM ESCOLAS DE TEATRO FORA DA ACADEMIA, E TODAS ELAS
FALAM TANTO DOS ALUNOS QUANTO DOS SEUS MESTRES. SÓ POSSO DIZER DE VOCÊS QUE
NUNCA- VOU REPETIR PARA QUEM NÃO PRESTOU BEM ATENÇÃO À PALAVRA: NUNCA- VI
ALUNOS TÃO BEM PREPARADOS. JURO QUE ENQUANTO ASSISTIA ME VINHA À CABEÇA ALUNOS
POR EXEMPLO DO ANTIGO E VENERÁVEL CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO DE MEU DEPARTAMENTO.
NENHUM CHEGOU TÃO BEM AO FIM. NÃO ENTENDAM COMO COMPARAÇÃO, NÃO SE COMPARAM
ESSAS COISAS- É QUE NÃO TEMOS TERMOS EXATOS E MELHORES PARA PODER INDICAR O
GRAU DA QUALIDADE DE UM TRABALHO COMO O QUE VI NESSA NOITE. SINTAM-SE
ORGULHOSOS COMO SE SENTIRAM, NAQUELES ANOS, OS MENINOS MAIS VELHINHOS E JÁ
FORMADOS EM ARTES CÊNICAS QUE TERMINARAM NOSSO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM
FORMAÇÃO DE ATOR.
1.6.
MAS
VOCES PODEM SAIR DIZENDO POR AÍ QUE VOCES ME FIZERAM BABAR UM POUCO MAIS.
2.
NÃO
VOU SEGUIR A FICHA. ESTÁ BEM-FEITA PARA ACOMPANHAMENTO DE TRABALHO DOS ALUNOS. GOSTEI
DE LÊ-LA. PORÉM DADA A RAPIDEZ ENTRE PEÇAS (SENHORES, SAMUEL BECKETT IRIA RALHAR COM VOCES. O QUE VIMOS
ALI FORAM 12 PEÇAS TEATRAIS. E PONTO), ESCREVER NO
ESCURO, ESCREVER À MÃO DEPOIS DE ANOS DIGITANDO EM COMPUTADORES (E MESMO ANTES, NUNCA CONSEGUIA LER DEPOIS) MINHA
TAREFA FICARIA MUITO COMPLICADA. LOUVO, ADMIRO E VENERO QUEM CONSEGUE, MAS TALVEZ
POR CAUSA DE MEUS OLHOS JÁ CANSADOS E FRACOS E MINHA MÃO IDOSA E TRÊMULA, EU
NÃO CONSIGA MESMO.( favor ler isso ouvindo a sugestão de Polly: https://www.youtube.com/watch?v=U6lO5L_tNNo
)
3.
O
QUE COMPENSO COM MINHA PRODIGIOSA MEMÓRIA, TREINADA AO LONGO DO FAZER MEUS EM
CENA, TEXTOS GIGANTESCOS DE TEATRO. No tempo do teatrão, chamavam “bifes”-
breve ninguém suportava nem falar , nem ouvir textos de mais de 4 linhas. Hoje
sabemos que era por causa de uma impaciência nata das pessoas impacientes daqueles
tempos, meio modernamente apressadas, modernamente em 1920 diga-se de passagem.
O que foi devidamente corrigido por alguns que escrevem 200 páginas para uma só
réplica. A descoberta fundamental é que o ator sendo aristotelicamente veraz o
público será aristotelicamente atento. E admirado por ver tanto pensamento em
uma só pessoa em palco. Beckett escreveu bifes maravilhosos. E o melhor de
Shakespeare foram seus bifes- quase tratados de filosofia oferecidos a preços
populares, pense num “ ser ou não ser- eis a questão! De que vale ao Homem...”
Aquilo que se chamava monólogo, não muito aconselhado, é hoje uma coleção de obras
de rara beleza e inteligência. O “ monólogo interior “ da literatura infestou
tudo, Graças a deus.
a)
Minha
ficha está toda marcada apenas na primeira coluna. Sou conhecido por dar 10 para todo aluno no primeiro dia de
aula. Tiro o peso o peso da comparação de cima de minha
carreira e devolvo ao aluno o que só cabe a ele: segurar a peteca de ter que fazer
um trabalho de qualidade cada vez maior ao longo de sua vida e não apenas no
semestre. Receber um 10 de chofre é uma responsabilidade e faz do
aluno o construtor de seu próprio caminho. Além de fazê-lo sempre se surpreender
e dizer, mas que diabos está acontecendo aqui? E a surpresa diante da
vida ainda é o maior sinal de inteligência que podemos demonstrar. Em sua “Reconstrução
de um gabinete contemporâneo de arte e curiosidades”, Bazon Brock fez
do “aprender a maravilhar” uma forma
análoga ao processo de alienação ( Verfredumg brechtiano) ” A velha sabedoria
filosófica sugere que primeiro aprendamos a nos maravilhar (maravilhar) novamente,
o que não significa nada além de poder olhar e entender algo que é muito
conhecido ou insignificante com olhos diferentes, ou seja, manipulá-lo.”
b)
Então,
amigos...
c)
então...
d)
um
10 surpresa, de sopetão é como um beijo no asfalto.
e)
Na boca! ( que final esplêndido de cena!!)
f)
Um
10 dado faz de nós, professores, tanto co-adjuvantes quanto profetas, de pro+FATERI,
“reconhecer” ou “declarar publicamente perante todos” que aqui vieram, como alunos, para mudar os números do mundo e não apenas repeti-los. (uso uma expressão
antiga, que designava “Número”, uma peça teatral ou musical. Portanto em teatro
apenas existem todos os
números, não apenas a sequência decimal)
g)
Digo
assim minha própria surpresa diante do palco onde vocês viveram histórias
absolutamente extraordinárias.
h)
Afinal,
querem que eu diga o que, se em meu léxico não há palavras nem números nem nada
que possa dar a medida justa, exata do que vi ao ver vocês?
i)
Posso
dar uma fichinha clássica que usamos em crítica teatral.
j)
Posso
falar da luz, mas não vou, por pedido súplice de nosso diretor e quase-cleison
para não o fazer. Mas não posso deixar de marcar aqui que a luz pode funcionar
como importante personagem, por exemplo se feita por Cleison. Para acrescentar
que – vou voltar a esse ponto do chamado palco
desnudo- a ausência dela ou seu uso mais simplificado não significam
necessariamente pobreza ou desconhecimento do papel desse elemento na cena. Pode
ser. Mas pode ser também uma opção. Pode-se realçar algo por sua ausência:
basta se ouvir todos os silêncios em música para vermos como se criam os ritmos
por exemplo. E num pouco menos, mas na mesma direção, basta se ver as sombras
da escola flamenga de pintura para se sentir que luz extraordinária há nela ou como
no butoh ao se mover buscando áreas de sombra de um corpo que dança. Mesmo com
todas as súplicas de Emmanuel, a luz foi algumas vezes sugestiva ( um
vermelhão) e em geral foi funcional. Mantendo o nível dos espetáculos.
k)
Etc
e Figurino: se houvesse apenas um- repito: apenas um- figurino muito bem feito
e os outros menos ou se fossem funcionais já teria sido uma mostra de que há
cuidado nessa escola. Mas não. Houve bem mais do que apenas um. Eu fiquei
siderado com a Blanche e suas luvinhas, tinha o frescor e o desatino de um dos
personagens mais fabulosos da dramaturgia americana, ao lado da irmã, mais
simples na roupa, mais pé no chão. Que eu saiba, é assim que se faz figurino. A
roupa determina o personagem. Claro, há os que fazem figurino de teatro porque deveriam
ter sido alfaiates e não artistas, bem talhado, mas meio fora de propósito. Não vi isso acontecer ontem. Pelo contrário. Coisas simples estavam perfeitas, como a roupa
formal com ar meio descuidado de um jornal carioca de Robson e Davison em Beijo
no Asfalto (1,2). Dois atores IMPRESSIONANTES, digo logo de passagem. Posso
me repetir? Há muitos séculos que eu não via um bom Nelson tão Nelson, tão
exato. Por aqui andou-se fazendo muito Senhora dos Afogados e tais. Mas
de longe, Beijo no Asfalto é a peça mais bem escrita de Nelson, por ser
violenta, ainda atual e bem-humorada. E enquanto houver beijos proibidos, será
sem dúvida a que estará em cena. E vimos
esse mesmo cuidado com a exatidão e a simplicidade com Clara e Otto (11) e ). Quarteto
de atores com um timing de Keith Brannagh...
l)
(*) atores, vão por mim!
m)
Beijo no
Asfalto (8) teve 2 coisas muito especiais. Aquele jornal que passava para lá
e para cá fixando que Beijo no Asfalto também é uma peça sobre o jornalismo.
Sobretudo se lembrarmos que o irmão de Nelson foi assassinado numa Redação por
ter saído no Jornal da família notícia difamatória sobre uma dondoca do Rio.
Que foi lá, perguntou pelo pai- o dono e responsável- e como ele não
estava, disse então vai você mesmo e baleou o outro Rodrigues. Do mesmo modo que
falei da oposição na roupo das atrizes de Tennessee Willians, aqui é esse
objeto de cena que insiste em circular causando o problema da peça. Não foi o
beijo. Foi ter sido noticiado e explorado.
n)
A outra coisa especial é que há um crescendo no volume
das vozes. O recurso de modulação do som geral da cena ( o que
mostra uma boa direção, ou uma boa atuação caso não haja diretor) foi usado em
outras peças nessa noite, mostrando domínio do processo de informação ao
público.
o) Mas exatamente o início mais baixo nos fez perder aqui e ali pedaços
do texto.
p)
Então
vou adiantar o único problema que encontrei em algumas das peças.
q)
(E vou continuar chamando de peças, por
mais que haja quem as queira cenas de peças. Já foi o tempo em que precisávamos
encher a paciência do público com 2 horas de texto, que podem ser dados com a
mesma intensidade e grandeza em simplicíssimos 3 minutos ou 15. Os 3 minutos
ficam por conta do DIG e os 15 e até bem menos por conta de Samuel Beckett, e
quem irá dizer que Beckett não foi o grande inventor da exatidão na moderna
dramaturgia?)
r)
O
problema foi que o texto não chegava lá embaixo.
s)
Vamos
devagar com isso: a colocação da voz e a boa dicção são basicamente
responsáveis pelo alcance da voz em relação ao público. Nada a ver portanto com
“ falar baixo” ou “ falar naturalmente”. Se você quer um bom Stanislavski, fale
naturalmente como se ele estivesse conversando consigo. E isso pode ser bem
baixinho. Pois o que faz sua voz chegar até o fundo da plateia é como você
articula os sons e não seu volume. Esse é um maravilhoso recurso que matou
definitivamente o teatro em tom declamatório. E não se aperreie tanto, pois
Brecht requer tons declamatórios de vez em quando E isso é a coisa mais normal do mundo quando
se sobe ali pelas primeiras vezes: a pressão de estar na frente daquele mundaréu
tensiona a garganta e nos atrapalha a articulação. Então se algum ou outro ficou
nos devendo alguns pedaços das falas -e
aconteceu- isso certamente deve ser corrigido, pois o terceiro elemento essencial de
todo teatro somos nós, o distinto público. Mas foram casos esparsos.
t)
No
todo os atores mostraram uma técnica aprimorada. Vou apenas dar o exemplo dessa
atriz fabulosa chamada
Aline no Vidigal de Emmanuel. Fixa, no meio do palco, com
uma simplicidade de gestos, falando em tom baixo até o crescendo brechtiano numa
cena que só merece um nome: delicada. E um texto que requeria dela um tom de
lamento, tristeza, o que em geral não dificulta a articulação, mas pode nos pregar
peças se nos entregarmos demasiadamente a ele. Acresce que Aline nos prendeu no
timing perfeito da fala.
u)
E
aqui também tenho que parar para falar de todos: pessoal, vcs pareciam de
verdade! Isso Aristóteles chamava de verossimilhança e exigia como marca
do bom teatro. O QUE NÃO É FÁCIL E QUE É A PRINCIPAL MARCA PELA QUAL A GENTE
RECONHECE ALGUEM “QUE NUNCA PISOU NO PALCO”, como disse divertidamente nosso
diretor ao anunciar os primeiros passos de vocês. Claro ele estava brincando
com seus pupilos. Eu o conheci como aluno e se há uma virtude em Emmanuel é a
confiança que ele tem nas pessoas e, portanto, nos seus alunos. Ele tinha
certeza de que todos eram e iam demonstrar serem estrelas de primeira grandeza,
alguns mesmo prá lá de hors-concours. Isso sou eu quem garante,
essa certeza é minha.
v)
Timing. Tempo de
resposta. Sem ele
parece que se está esquecendo do texto ou com medo de falar em público. Essa
foi a grande noite do timing. Coisa de grandes atores.
w)
E raramente se vê um
grupo de atores novos amar tanto o público como vocês.
x)
Entre atores e público do Ato I Foi paixão mútua à primeira vista.
y)
Antes de terminar sou obrigado a registrar o
pequeno toque de modernidade ao longo das peças. Vou chamar
esse ponto de palco desnudo e sua ocupação
z)
Ou: COMO DEIXAR O PÚBLICO CRIAR UM UNIVERSO
INTEIRO SÓ COM DUAS COISINHAS
aa)
O que falo é moderno, mas vem entre outros
dos gregos e de Shakespeare. A criação do teatro moderno deu-se com o advento
dos Diretores como figuras centrais e administrativas- vide
Lessing e a Dramaturgia de Hamburgo- e com a noção de espetáculo. Ambos resultaram
em enormes novidades que acabaram, com tanta beleza, por entupir a cena.
bb) A
reação dos anos 60 foi de simplificar o palco -sobretudo o cenário uma vez que Gordon
Craig já estava a imaginá-los gigantescos. O praticável veio substituir quase
tudo. E foi sem dúvida algo como a invenção da roda. Uma das peças mais famosas
da modernidade pede apenas uma árvore e um banquinho. Isso é Beckett.
cc) (Palco vazio. Sete cadeiras pretas. Som do rádio)-
isso é anos 60, isso é Julio Conte aqui oportunamente relembrado porque os ovos
da serpente voltaram a ser chocados na presidência.
dd) Quando vemos atores e uma
simples mesa aqui e ali, como que passeando pelo palco ao longo das encenações,
pontuando-nos visualmente todo o espaço, indo ocupar até a boca de cena, lugar
íntimo dos admiráveis David e César em Partilha; ou quando vemos plaquinhas pautando o
espaço da atriz (Vidigal) - não há como não pensarmos que estamos diante
de um Shakespeare. Em 1500 o cenário era simples e eficaz assim. A mesma
simplicidade e eficácia das quais Beckett quase que abusará.
ee)
Para terminar (viram
porque me recusei a falar muito ao final dos espetáculos? eu iria dizer tudo o que
aqui disse hoje ) tenho que confessar que quando vi os módulos fiquei inquieto.
Três linhas de força da modernidade estavam lá.
ff)
Mas por mais que
Stanislavski seja trabalhoso- e como dá trabalho a naturalidade forjada em
palco! - partilharam esse esforço
conosco David e César; Clara Mariinha;
Duda e Luisa Bondes de desejos frustrados; Gotan,Lucas e Bento no Mundo
de Mônica e Emmanuel; Marina, Ilana e Letícia ás
voltas com aquele jornal rodrigueano do Beijo no Asfalto, a
outra Clara e Otto levando Nelson à perfeição na já comentada cena 11, Wilgberto e Ubirajara, absolutamente poderosos nos altos e
baixos desse texto poderoso de Bosco Brasil; Lucas, Bárbara e Davison, os três no timing exato do assustadoramente
atual Bailei na Curva
gg)
Por mais que Brecht seja um quase-deus de
reverências e referências à Verfrendungs ( cfra texto sobre o maravilhar-se in https://www.textpraxis.net/sonja-lehmann-verfremdet-wiederbelebt
)
hh)
O Brecht das quartas
paredes, do “apontamento duplo” onde o ator deixa claro que está mostrando um
personagem da peça, que por sua vez mostra uma situação da vida cotidiana ou da
vida e da realidade.
ii)
Brecht aprendiz,
fascinado pelo teatro chinês escreverá: “Então se você assistir um ator chinês,
você não vê menos de três pessoas ao mesmo tempo, uma apontando e duas
mostradas.” Céus como Brecht estica a vida do ator! Nós vimos Ana, Nina,
Maya e Vanessa se fazerem de 12 pessoas no palco, a
palo seco, se fazendo Côro grego, se fazendo Outros e todos e todes, se fazendo nós e nos distanciando
mostrando e apontando para onde olhar. Jesus, que querem que eu diga?
jj)
Só posso dizer que depois
dessa obra prima brechtiana ainda vinha o Artaud.
kk)
Aí fiquei inquieto.
ll)
Porque Artaud é o
cara. Porque é tão o cara que nem ele conseguiu mostrar como era que queria uma
encenação. Seu Cenci foi um desastre. Mas. É esse mas que faz toda
diferença entre, digamos por exemplo, um Bolsonaro, eka, e um presidente de uma
república.
mm)
MAS suas afirmações
sobre o que é ou como deve ser o teatro, são sem dúvida o pensamento mais
fabuloso desde que Tespis puxou uma carroça e saiu por ai.
nn)
Caty, Gabriel, Gui, Patrícia, Rodolpho- e
juro que não fumei nadinha mas devo ter delirado como nos velhos tempos pois vi
6 , uma indígena-deusa, duas nativas e 3 portugueses desembarcando na terra dos papagaios e araras. Sei que a
deusa ao fundo era katakali, porque é um jogo que canaliza histórias de seres
sobrenaturais que eram nossa mata, nosso céu, nossos barulhentos pássaros,
nossa tropicalidade que assustava tanto nosso Gilberto Freyre com Y ao projetar
um Instituto para domesticá-lo, aqui, em Recife, ali em Apipucos. Na linha
oposta de quem afirmou que toda escrita é porcaria e, anti-conservador, colocou
o teatro como o lugar privilegiado de uma germinação de formas que refazem o
ato criador, formas capazes de dirigir ou derivar forças
oo) Posto isso, The vocality gleaned from Artaud's work is pervaded by the
spectrum of yelling.
pp)
As
colocações de Artaud sobre os corpos, a crueldade – que foram bem exploradas em
Germinar- me parecem poder em cena serem concentradas numa só forma- e nos sons
de voz que ele tanto usou para acabar com o julgamento de deus- o grito.
qq)
O
grito da deusa-indígena concentrou nele tudo: todo Artaud e todas as peças que
precederam nesta noite e toda nossa história de grupos que sisificamente tentam
carregar o teatro para a frente, para as próximas gerações, para a humanidade
que deverá vir.
rr) Então vou terminar agradecendo o foguinho de esperança que reascenderam no coração de um velho professor de teatro ( por favor aumentem o volume : https://www.youtube.com/watch?v=U6lO5L_tNNo ) me permitindo mais uma vez gritar com Artaud
ss)
and...
tt)
… the vocality gleaned from Artaud's work is pervaded by the spectrum of
yelling A noisy man, an outcry. Yelling has a distress call embedded in its
etymology but, nevertheless, Artaud goes even further and his howl supports a
rumorous practice, from the Latin rumor, rustle, murmur, in favour of the
affirmation. A yell and an affirmation. The yell goes through the hospital,
nursing home and psychiatric institutions that provide no nurture for his
conflicts, pierces trough the language in which the word, often domesticated or
moralized, does not allow a certain wildness of the creative act to flourish,
breaks through creating a necessary disturbance, an uncomfortable furor. The
noise between words, the noise of crisis, the noise of a language falling
apart, the noises of the mind. The yell brings ugliness and amoral violence.
Explosion. A nervous animal, a poorly done aesthetic, no refinement, no
elegance.
uu)
No refinement, No elegance. Did you
understand?
vv)
Tente mais uma vez:
ww)
und dies analog zum Verfahren der Verfremdung
beschrieben:
xx) Schon
alte Philosophenweisheit legt uns nahe, zunächst wieder das Staunen (Wundern)
zu lernen, was nichts anderes meint, als dazu fähig zu sein, etwas für
allzubekannt Gehaltenes oder für unbedeutend Gehaltenes mit anderen Augen
anzusehen und zu begreifen, also zu manipulieren.
https://www.escavador.com/sobre/5188983/paulo-tarcisio-andretti-michelotto
https://draft.blogger.com/blog/posts/8512088918583936006?pli=1