“Por meio da encenação poético-teatral, da exploração da
linguagem não verbal e do conceito de ressignificação de objetos do cotidiano,
ACHADOUROS propõe...”
(programa)
Resignificar o mundo é talvez nossa mais profunda
experiência.
Alice, a maravilhosa pirralhinha a meu lado disse “quando
vai começar a peça?”. E emendou- após a mãe bem adulta garantir que já era a
peça- “mas elas estão brincando!”. Alice estava ressignificando. Alice me pareceu naquele momento uma senhora de 80 anos, mas estava ressignificando o país das maravilhas
que era onde Caísa e Nara, aquelas duas
criaturas fantásticamente maternas estavam se divertindo. Sim, pois se
maternidade pode ter alguma significação, certamente era aquilo que estávamos
vendo.
Alice entendeu que
aquilo não era trabalho e talvez tenha desaprendido naquela hora que existe
apenas uma coisa que chamamos peça. Existem peças e peças, basta irmos
ressignificando o teatro. Mas, garanto, a primeira vez ao longo de meus 75 anos que
vejo um teatro para bebês. E estou há apenas meio século em Recife, mas
parece-me que posso dizer que está sendo a primeira vez que vemos esse conjunto
de signos recolocados em cena visando diretamente o olhar felino e inclemente , o ouvido de infinitas
sonoridades , a sensibilidade à flor da pele e a pele das mães ainda não
habituadas a permitirem a algazarra desgovernada, o choro desconsolado, o riso
sem fim, a observação gritada fora de hora. Enfim um teatro atento a tudo o que
toda criança faz com maestria: ser sensível ao mundo e recriá-lo com profusão.
Crianças ressignificam tudo o tempo todo e por isso dizemos
com orgulho que são nossos filhos, que
são da espécie humana.
Manoel de Barros refez não só o mundo da criança como o
mundo todo. As lesmas jamais serão as mesmas, depois de Manoel de Barros. Muito
menos as crianças. Foi Artaud quem disse que depois de van Gogh os girassóis
iriam imitar os dele. Depois do coletivo Criadouros, deveríamos todos imitá-los.
Mas não falei da encenação ainda.
Dramaturgia, cenário, figurino, sonoplastia, design de luz,
performance de atores, diretor ó meu deus diretor, precisam lá de recomendação
depois que montes de crianças não conseguiam sair do palco, grudadas na história
balbuciada, montes de mães de montes de crianças se diziam “ ah eu é que queria
estar lá!”, como a mãe de Alice me sussurrou
a meu lado, montes de pais-homens embasbacados por terem perdido o uso do
balbucio há alguns séculos de machismo, racionalismo e tantos istmos, montados
quais cavalos pensavam sob o peso amável de seus filhotes’ também fui criança”...quem
hipnotiza humanos assim com seus próprios primeiros vagidos precisa lá de
alguma recomendação?
Creio e sugiro que hoje a gente sente aqui e fique olhando
para essas duas meninas crescidinhas , aqui a meu lado, e digamos todos juntos
ao mesmo tempo numa infinita algazarra de vozes que ninguém controla, nem rege
nem governa- pois somos da espécie humana e não nos abaixamos-OBRIGADO gurias,
deus como vocês nos salvam, sem precisar morrer em cruz alguma, sem dores
românticas desnecessárias, sem padecermos em paraísos, apenas nos ensinando
mais uma vez , dessa vez em noivos signos, a velha lição: sejai simples e agradareis.
Devo anotar por fim que é de extrema crueldade terem me
colocado para assistir Achadouros - puro achado, puro ouro, puro deleite, pura
sensibilidade, fineza, cortesia e doçura e doçura e doçura- algumas horas antes de Misanthrofreak, que é
uma pauleira infernal.
Mas esse é outro texto,
apesar de vir da mesma Brasília.
Só falei agora em misantropos porque tenho certeza que os bebês que
passarem pelo canto, pelo balbucio, pelo dançar espreguiçado de Caúsa e Nara serão os que amanhã enfrentarão com dignidade
e cabeça erguida- humanos porque humanos muito humanos somos- a solidão, o
desencontro e toda série escapada da caixa de pandora de nosso século um tanto
quanto ligeiramente conturbado.
Esses
bebês, tenho certeza- poderão dizer amanhã “
o mundo perdeu seu equilíbrio, maldição eu ter nascido para endireitá-lo.
E sairão, mesmo que duramente, a ressignificá-lo.
ELENCO: Caísa Tibúrcio & Nara Faria
DIREÇÃO: José Regino
DRAMATURGIA; Criação Coletivo
FIGURINO: José Regino
CRIAÇÃO MUSICAL: Caísa Tibúrcio & Nara Faria
CENOGRAFIA: Chico Sassi
ILUMINAÇÃO: Marcelo augusto
PRODUÇÃO GERAL; V4 Cultural
PRODUÇÃO EXECUTIVA:Pedro Caroca
DESIGNER GRÁFICO:Jana Ferreira
FOTOGRAFIA:Débora Amorim & Diego Bressani
REGISTRO VIDEOGRÁFICO E EDIÇÃO: Fabiano Morari
/ Cachecol Filmes
ELENCO: Caísa Tibúrcio & Nara Faria
DIREÇÃO: José Regino
DRAMATURGIA; Criação Coletivo
FIGURINO: José Regino
CRIAÇÃO MUSICAL: Caísa Tibúrcio & Nara Faria
CENOGRAFIA: Chico Sassi
ILUMINAÇÃO: Marcelo augusto
PRODUÇÃO GERAL; V4 Cultural
PRODUÇÃO EXECUTIVA:Pedro Caroca
DESIGNER GRÁFICO:Jana Ferreira
FOTOGRAFIA:Débora Amorim & Diego Bressani
REGISTRO VIDEOGRÁFICO E EDIÇÃO: Fabiano Morari
/ Cachecol Filmes
02.02./ 03.02
teatro marco camarotti 16 hs