terça-feira, 9 de agosto de 2022

 

CONSTRUÇÃO DO ATOR

ATO I


ATO I

DATA 05/08/2022

PROF. PAULO MICHELOTTO

 

HÁ MUITO O QUE FALAR.

VOU ESCREVER PARA OS ALUNOS

VOU ENUMERAR SÓ PARA ME FACILITAR

1.1.    A ORGANIZAÇÃO DA SEQUÊNCIA DOS ESPETÁCULOS FOI MUITO BEM FEITA. ABRIR COM PARTILHAR E FECHAR COM GERMINAR FOI UM GOLPE DE MESTRE.

1.2.    ME ENTENDAM: QUEM SOU EU PARA COMPARAR PEÇAS, ESPETÁCULOS, ATORES. ENTÃO O REGISTRO ACIMA QUER APENAS DIZER QUE OS ESPETÁCULOS CITADOS MOSTRARAM UMA QUASE-PERFEIÇÃO. DITO DE OUTRA MANEIRA: EU TERIA A HONRA DE ASSINAR EMBAIXO.

1.3.    DIZENDO UM POUCO MAIS: EU TRABALHEI 40 ANOS EM UNIVERSIDADES. O ORGULHO QUE TENHO POR ESSE TRABALHO TERIA SIDO O MESMO SE EU TIVESSE TRABALHADO  40 ANOS NA CONSTRUÇÃO DO ATOR JUNTO COM EMMANUEL E JULIANA. 

1.4.    DIZENDO UM POUCO MAIS AINDA: TIVEMOS O PRAZER DE ENTRAR, DURANTE UMA NOITE, EM TEXTOS NA MAIORIA NADA FÁCEIS E BONS REPRESENTANTES DA GRANDEZA DE NOSSA ARTE. FUI PROFESSOR DE DRAMATURGIA, ENTRE OUTRAS COISAS E POR ISSO MESMO TENHO CERTEZA DE QUE MINHA EXPERIÊNIA FOI AINDA MELHOR QUE A DO RESTO DO PÚBLICO, POIS SÓ PUDE SENTIR NO PALCO -COMO SE FOSSEM FILHOS MEUS-  O TEXTO DE BRUNO, DE EMMANUEL E AS ADAPTAÇÕES DE EMMANUEL, QUE SEI BEM, POR TÊ-LO FEITO TANTAS VÊZES, O QUANTO É UM TRABALHO IMPORTANTE E O QUANTO PENOSO TERMOS DE VESTIR A PELE DO AUTOR E ASSIM ABRIGADOS NOS MUDARMOS TEXTUALMENTE PARA FALAR COM NOSSA TERRA, NOSSA GENTE, NOSSA ÉPOCA. QUERO MUITO LER TODOS TEXTOS DELES.

1.5.    FECHANDO ESSAS CONSIDERAÇÕES INICIAIS MAIS GERAIS, PRECISO DIZER- E NÃO É SÓ DE CORAÇÃO PORQUE PODE PARECER PURA BONDADE MINHA, MAS É DE CÁTEDRA, EM CIMA DA RAZÃO E DO SABER QUE NOS SUSTENTARAM: EU JÁ PARTICIPEI DE UM SEM NÚMERO DE APRESENTAÇÕES DE ALUNOS EM ESCOLAS DE TEATRO FORA DA ACADEMIA, E TODAS ELAS FALAM TANTO DOS ALUNOS QUANTO DOS SEUS MESTRES. SÓ POSSO DIZER DE VOCÊS QUE NUNCA- VOU REPETIR PARA QUEM NÃO PRESTOU BEM ATENÇÃO À PALAVRA: NUNCA- VI ALUNOS TÃO BEM PREPARADOS. JURO QUE ENQUANTO ASSISTIA ME VINHA À CABEÇA ALUNOS POR EXEMPLO DO ANTIGO E VENERÁVEL CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO DE MEU DEPARTAMENTO. NENHUM CHEGOU TÃO BEM AO FIM. NÃO ENTENDAM COMO COMPARAÇÃO, NÃO SE COMPARAM ESSAS COISAS- É QUE NÃO TEMOS TERMOS EXATOS E MELHORES PARA PODER INDICAR O GRAU DA QUALIDADE DE UM TRABALHO COMO O QUE VI NESSA NOITE. SINTAM-SE ORGULHOSOS COMO SE SENTIRAM, NAQUELES ANOS, OS MENINOS MAIS VELHINHOS E JÁ FORMADOS EM ARTES CÊNICAS QUE TERMINARAM NOSSO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FORMAÇÃO DE ATOR.

1.6.    MAS VOCES PODEM SAIR DIZENDO POR AÍ QUE VOCES ME FIZERAM BABAR UM POUCO MAIS.

2.       NÃO VOU SEGUIR A FICHA. ESTÁ BEM-FEITA PARA ACOMPANHAMENTO DE TRABALHO DOS ALUNOS. GOSTEI DE LÊ-LA. PORÉM DADA A RAPIDEZ ENTRE PEÇAS (SENHORES, SAMUEL BECKETT IRIA RALHAR COM VOCES. O QUE VIMOS ALI FORAM 12 PEÇAS TEATRAIS. E PONTO), ESCREVER NO ESCURO, ESCREVER À MÃO DEPOIS DE ANOS DIGITANDO EM COMPUTADORES (E MESMO ANTES, NUNCA CONSEGUIA LER DEPOIS) MINHA TAREFA FICARIA MUITO COMPLICADA. LOUVO, ADMIRO E VENERO QUEM CONSEGUE, MAS TALVEZ POR CAUSA DE MEUS OLHOS JÁ CANSADOS E FRACOS E MINHA MÃO IDOSA E TRÊMULA, EU NÃO CONSIGA MESMO.( favor ler isso ouvindo a sugestão de Polly: https://www.youtube.com/watch?v=U6lO5L_tNNo )

3.       O QUE COMPENSO COM MINHA PRODIGIOSA MEMÓRIA, TREINADA AO LONGO DO FAZER MEUS EM CENA, TEXTOS GIGANTESCOS DE TEATRO. No tempo do teatrão, chamavam “bifes”- breve ninguém suportava nem falar , nem ouvir textos de mais de 4 linhas. Hoje sabemos que era por causa de uma impaciência nata das pessoas impacientes daqueles tempos, meio modernamente apressadas, modernamente em 1920 diga-se de passagem. O que foi devidamente corrigido por alguns que escrevem 200 páginas para uma só réplica. A descoberta fundamental é que o ator sendo aristotelicamente veraz o público será aristotelicamente atento. E admirado por ver tanto pensamento em uma só pessoa em palco. Beckett escreveu bifes maravilhosos. E o melhor de Shakespeare foram seus bifes- quase tratados de filosofia oferecidos a preços populares, pense num “ ser ou não ser- eis a questão! De que vale ao Homem...” Aquilo que se chamava monólogo, não muito aconselhado, é hoje uma coleção de obras de rara beleza e inteligência. O “ monólogo interior “ da literatura infestou tudo, Graças a deus.

a)       Minha ficha está toda marcada apenas na primeira coluna. Sou conhecido por dar 10 para todo aluno no primeiro dia de aula. Tiro o peso o peso da comparação de cima de minha carreira e devolvo ao aluno o que só cabe a ele: segurar a peteca de ter que fazer um trabalho de qualidade cada vez maior ao longo de sua vida e não apenas no semestre. Receber um 10 de chofre é uma responsabilidade e faz do aluno o construtor de seu próprio caminho. Além de fazê-lo sempre se surpreender e dizer, mas que diabos está acontecendo aqui? E a surpresa diante da vida ainda é o maior sinal de inteligência que podemos demonstrar. Em sua “Reconstrução de um gabinete contemporâneo de arte e curiosidades”, Bazon Brock fez do “aprender a maravilhar”  uma forma análoga ao processo de alienação ( Verfredumg brechtiano) ” A velha sabedoria filosófica sugere que primeiro aprendamos a nos maravilhar (maravilhar) novamente, o que não significa nada além de poder olhar e entender algo que é muito conhecido ou insignificante com olhos diferentes, ou seja, manipulá-lo.”

b)      Então, amigos...

c)       então...

d)      um 10 surpresa, de sopetão é como um beijo no asfalto.

e)      Na boca! ( que final esplêndido de cena!!)

f)        Um 10 dado faz de nós, professores, tanto co-adjuvantes quanto profetas, de pro+FATERI, “reconhecer” ou “declarar publicamente perante todos” que aqui vieram, como alunos, para mudar os números do mundo e não apenas repeti-los. (uso uma expressão antiga, que designava “Número”, uma peça teatral ou musical. Portanto em teatro apenas existem todos os números, não apenas a sequência decimal)

g)       Digo assim minha própria surpresa diante do palco onde vocês viveram histórias absolutamente extraordinárias.

h)      Afinal, querem que eu diga o que, se em meu léxico não há palavras nem números nem nada que possa dar a medida justa, exata do que vi ao ver vocês?

i)        Posso dar uma fichinha clássica que usamos em crítica teatral.

j)        Posso falar da luz, mas não vou, por pedido súplice de nosso diretor e quase-cleison para não o fazer. Mas não posso deixar de marcar aqui que a luz pode funcionar como importante personagem, por exemplo se feita por Cleison. Para acrescentar que – vou voltar a esse ponto do chamado palco desnudo- a ausência dela ou seu uso mais simplificado não significam necessariamente pobreza ou desconhecimento do papel desse elemento na cena. Pode ser. Mas pode ser também uma opção. Pode-se realçar algo por sua ausência: basta se ouvir todos os silêncios em música para vermos como se criam os ritmos por exemplo. E num pouco menos, mas na mesma direção, basta se ver as sombras da escola flamenga de pintura para se sentir que luz extraordinária há nela ou como no butoh ao se mover buscando áreas de sombra de um corpo que dança. Mesmo com todas as súplicas de Emmanuel, a luz foi algumas vezes sugestiva ( um vermelhão) e em geral foi funcional. Mantendo o nível dos espetáculos.

k)       Etc e Figurino: se houvesse apenas um- repito: apenas um- figurino muito bem feito e os outros menos ou se fossem funcionais já teria sido uma mostra de que há cuidado nessa escola. Mas não. Houve bem mais do que apenas um. Eu fiquei siderado com a Blanche e suas luvinhas, tinha o frescor e o desatino de um dos personagens mais fabulosos da dramaturgia americana, ao lado da irmã, mais simples na roupa, mais pé no chão. Que eu saiba, é assim que se faz figurino. A roupa determina o personagem. Claro, há os que fazem figurino de teatro porque deveriam ter sido alfaiates e não artistas, bem talhado, mas meio fora de propósito.  Não vi isso acontecer ontem. Pelo contrário.  Coisas simples estavam perfeitas, como a roupa formal com ar meio descuidado de um jornal carioca de Robson e Davison em Beijo no Asfalto (1,2). Dois atores IMPRESSIONANTES, digo logo de passagem. Posso me repetir? Há muitos séculos que eu não via um bom Nelson tão Nelson, tão exato. Por aqui andou-se fazendo muito Senhora dos Afogados e tais. Mas de longe, Beijo no Asfalto é a peça mais bem escrita de Nelson, por ser violenta, ainda atual e bem-humorada. E enquanto houver beijos proibidos, será sem dúvida a que estará em cena.  E vimos esse mesmo cuidado com a exatidão e a simplicidade com Clara e Otto (11) e ). Quarteto de atores com um timing de Keith Brannagh...

l)         (*) atores, vão por mim!

m)    Beijo no Asfalto (8) teve 2 coisas muito especiais. Aquele jornal que passava para lá e para cá fixando que Beijo no Asfalto também é uma peça sobre o jornalismo. Sobretudo se lembrarmos que o irmão de Nelson foi assassinado numa Redação por ter saído no Jornal da família notícia difamatória sobre uma dondoca do Rio. Que foi lá, perguntou pelo pai- o dono e responsável- e como ele não estava, disse então vai você mesmo e  baleou o outro Rodrigues. Do mesmo modo que falei da oposição na roupo das atrizes de Tennessee Willians, aqui é esse objeto de cena que insiste em circular causando o problema da peça. Não foi o beijo. Foi ter sido noticiado e explorado.   

n)       A outra coisa especial é que há um crescendo no volume das vozes. O recurso de modulação do som geral da cena ( o que mostra uma boa direção, ou uma boa atuação caso não haja diretor) foi usado em outras peças nessa noite, mostrando domínio do processo de informação ao público.

o)      Mas exatamente o início mais baixo nos fez perder aqui e ali pedaços do texto.

p)      Então vou adiantar o único problema que encontrei em algumas das peças.

q)       (E vou continuar chamando de peças, por mais que haja quem as queira cenas de peças. Já foi o tempo em que precisávamos encher a paciência do público com 2 horas de texto, que podem ser dados com a mesma intensidade e grandeza em simplicíssimos 3 minutos ou 15. Os 3 minutos ficam por conta do DIG e os 15 e até bem menos por conta de Samuel Beckett, e quem irá dizer que Beckett não foi o grande inventor da exatidão na moderna dramaturgia?)

r)       O problema foi que o texto não chegava lá embaixo.

s)       Vamos devagar com isso: a colocação da voz e a boa dicção são basicamente responsáveis pelo alcance da voz em relação ao público. Nada a ver portanto com “ falar baixo” ou “ falar naturalmente”. Se você quer um bom Stanislavski, fale naturalmente como se ele estivesse conversando consigo. E isso pode ser bem baixinho. Pois o que faz sua voz chegar até o fundo da plateia é como você articula os sons e não seu volume. Esse é um maravilhoso recurso que matou definitivamente o teatro em tom declamatório. E não se aperreie tanto, pois Brecht requer tons declamatórios de vez em quando   E isso é a coisa mais normal do mundo quando se sobe ali pelas primeiras vezes: a pressão de estar na frente daquele mundaréu tensiona a garganta e nos atrapalha a articulação. Então se algum ou outro ficou nos devendo alguns pedaços das falas -e aconteceu-  isso certamente deve ser corrigido, pois o terceiro elemento essencial de todo teatro somos nós, o distinto público.  Mas foram casos esparsos.

t)        No todo os atores mostraram uma técnica aprimorada. Vou apenas dar o exemplo dessa atriz fabulosa chamada Aline no Vidigal de Emmanuel. Fixa, no meio do palco, com uma simplicidade de gestos, falando em tom baixo até o crescendo brechtiano numa cena que só merece um nome: delicada. E um texto que requeria dela um tom de lamento, tristeza, o que em geral não dificulta a articulação, mas pode nos pregar peças se nos entregarmos demasiadamente a ele. Acresce que Aline nos prendeu no timing perfeito da fala.

u)      E aqui também tenho que parar para falar de todos: pessoal, vcs pareciam de verdade! Isso Aristóteles chamava de verossimilhança e exigia como marca do bom teatro. O QUE NÃO É FÁCIL E QUE É A PRINCIPAL MARCA PELA QUAL A GENTE RECONHECE ALGUEM “QUE NUNCA PISOU NO PALCO”, como disse divertidamente nosso diretor ao anunciar os primeiros passos de vocês. Claro ele estava brincando com seus pupilos. Eu o conheci como aluno e se há uma virtude em Emmanuel é a confiança que ele tem nas pessoas e, portanto, nos seus alunos. Ele tinha certeza de que todos eram e iam demonstrar serem estrelas de primeira grandeza, alguns mesmo prá lá de hors-concours. Isso sou eu quem garante, essa certeza é minha.

v)       Timing. Tempo de resposta. Sem ele parece que se está esquecendo do texto ou com medo de falar em público. Essa foi a grande noite do timing. Coisa de grandes atores.

w)     E raramente se vê um grupo de atores novos amar tanto o público como vocês.

x)       Entre atores e público do Ato I Foi paixão mútua à primeira vista.

y)       Antes de terminar sou obrigado a registrar o pequeno toque de modernidade ao longo das peças. Vou chamar esse ponto de palco desnudo e sua ocupação

z)       Ou: COMO DEIXAR O PÚBLICO CRIAR UM UNIVERSO INTEIRO SÓ COM DUAS COISINHAS

aa)   O que falo é moderno, mas vem entre outros dos gregos e de Shakespeare. A criação do teatro moderno deu-se com o advento dos Diretores como figuras centrais e administrativas- vide Lessing e a Dramaturgia de Hamburgo- e com a noção de espetáculo. Ambos resultaram em enormes novidades que acabaram, com tanta beleza, por entupir a cena.

bb)   A reação dos anos 60 foi de simplificar o palco -sobretudo o cenário uma vez que Gordon Craig já estava a imaginá-los gigantescos. O praticável veio substituir quase tudo. E foi sem dúvida algo como a invenção da roda. Uma das peças mais famosas da modernidade pede apenas uma árvore e um banquinho. Isso é Beckett.

cc)     (Palco vazio. Sete cadeiras pretas. Som do rádio)- isso é anos 60, isso é Julio Conte aqui oportunamente relembrado porque os ovos da serpente voltaram a ser chocados na presidência.

dd)  Quando vemos atores e uma simples mesa aqui e ali, como que passeando pelo palco ao longo das encenações, pontuando-nos visualmente todo o espaço, indo ocupar até a boca de cena, lugar íntimo dos admiráveis David e César em Partilha;  ou quando vemos plaquinhas pautando o espaço da atriz (Vidigal) -  não há como não pensarmos que estamos diante de um Shakespeare. Em 1500 o cenário era simples e eficaz assim. A mesma simplicidade e eficácia das quais Beckett quase que abusará.

ee)   Para terminar (viram porque me recusei a falar muito ao final dos espetáculos? eu iria dizer tudo o que aqui disse hoje ) tenho que confessar que quando vi os módulos fiquei inquieto. Três linhas de força da modernidade estavam lá.

ff)      Mas por mais que Stanislavski seja trabalhoso- e como dá trabalho a naturalidade forjada em palco! - partilharam esse esforço conosco David e  César; Clara Mariinha; Duda e Luisa Bondes de desejos frustrados; Gotan,Lucas e Bento no Mundo de Mônica e Emmanuel; Marina, Ilana e Letícia ás voltas com aquele jornal rodrigueano  do Beijo no Asfalto, a outra Clara e Otto levando Nelson à perfeição na já comentada  cena 11, Wilgberto e Ubirajara, absolutamente poderosos nos altos e baixos desse texto poderoso de Bosco Brasil; Lucas, Bárbara e Davison, os três no timing exato do assustadoramente atual Bailei na Curva

gg)    Por mais que Brecht seja um quase-deus de reverências e referências à Verfrendungs  ( cfra texto sobre o maravilhar-se in https://www.textpraxis.net/sonja-lehmann-verfremdet-wiederbelebt )

hh)  O Brecht das quartas paredes, do “apontamento duplo” onde o ator deixa claro que está mostrando um personagem da peça, que por sua vez mostra uma situação da vida cotidiana ou da vida e da realidade.

ii)       Brecht aprendiz, fascinado pelo teatro chinês escreverá: “Então se você assistir um ator chinês, você não vê menos de três pessoas ao mesmo tempo, uma apontando e duas mostradas.” Céus como Brecht estica a vida do ator! Nós vimos Ana, Nina, Maya e Vanessa se fazerem de 12 pessoas no palco, a palo seco, se fazendo Côro grego, se fazendo Outros e todos  e todes, se fazendo nós e nos distanciando mostrando e apontando para onde olhar. Jesus, que querem que eu diga?

jj)      Só posso dizer que depois dessa obra prima brechtiana ainda vinha o Artaud.

kk)   Aí fiquei inquieto.  

ll)       Porque Artaud é o cara. Porque é tão o cara que nem ele conseguiu mostrar como era que queria uma encenação. Seu Cenci foi um desastre. Mas. É esse mas que faz toda diferença entre, digamos por exemplo, um Bolsonaro, eka, e um presidente de uma república.

mm)          MAS suas afirmações sobre o que é ou como deve ser o teatro, são sem dúvida o pensamento mais fabuloso desde que Tespis puxou uma carroça e saiu por ai.

nn)  Caty, Gabriel, Gui, Patrícia, Rodolpho- e juro que não fumei nadinha mas devo ter delirado como nos velhos tempos pois vi 6 , uma indígena-deusa, duas nativas e 3 portugueses desembarcando na terra dos papagaios e araras. Sei que a deusa ao fundo era katakali, porque é um jogo que canaliza histórias de seres sobrenaturais que eram nossa mata, nosso céu, nossos barulhentos pássaros, nossa tropicalidade que assustava tanto nosso Gilberto Freyre com Y ao projetar um Instituto para domesticá-lo, aqui, em Recife, ali em Apipucos. Na linha oposta de quem afirmou que toda escrita é porcaria e, anti-conservador, colocou o teatro como o lugar privilegiado de uma germinação de formas que refazem o ato criador, formas capazes de dirigir ou derivar forças

oo)  Posto isso, The vocality gleaned from Artaud's work is pervaded by the spectrum of yelling.

pp)  As colocações de Artaud sobre os corpos, a crueldade – que foram bem exploradas em Germinar- me parecem poder em cena serem concentradas numa só forma- e nos sons de voz que ele tanto usou para acabar com o julgamento de deus- o grito.

qq)  O grito da deusa-indígena concentrou nele tudo: todo Artaud e todas as peças que precederam nesta noite e toda nossa história de grupos que sisificamente tentam carregar o teatro para a frente, para as próximas gerações, para a humanidade que deverá vir.

rr)     Então vou terminar agradecendo o foguinho de esperança que reascenderam no coração de um velho professor de teatro ( por favor aumentem o volume : https://www.youtube.com/watch?v=U6lO5L_tNNo ) me permitindo mais uma vez gritar com Artaud

ss)    and...

tt)     … the vocality gleaned from Artaud's work is pervaded by the spectrum of yelling A noisy man, an outcry. Yelling has a distress call embedded in its etymology but, nevertheless, Artaud goes even further and his howl supports a rumorous practice, from the Latin rumor, rustle, murmur, in favour of the affirmation. A yell and an affirmation. The yell goes through the hospital, nursing home and psychiatric institutions that provide no nurture for his conflicts, pierces trough the language in which the word, often domesticated or moralized, does not allow a certain wildness of the creative act to flourish, breaks through creating a necessary disturbance, an uncomfortable furor. The noise between words, the noise of crisis, the noise of a language falling apart, the noises of the mind. The yell brings ugliness and amoral violence. Explosion. A nervous animal, a poorly done aesthetic, no refinement, no elegance.

uu)  No refinement, No elegance. Did you understand?

vv)   Tente mais uma vez:

ww)                       und dies analog zum Verfahren der Verfremdung beschrieben:

xx)    Schon alte Philosophenweisheit legt uns nahe, zunächst wieder das Staunen (Wundern) zu lernen, was nichts anderes meint, als dazu fähig zu sein, etwas für allzubekannt Gehaltenes oder für unbedeutend Gehaltenes mit anderen Augen anzusehen und zu begreifen, also zu manipulieren.

 

 

https://www.escavador.com/sobre/5188983/paulo-tarcisio-andretti-michelotto

https://draft.blogger.com/blog/posts/8512088918583936006?pli=1

 

 

 

 

 

 

 

 

  CONSTRUÇÃO DO ATOR ATO I ATO I DATA 05/08/2022 PROF. PAULO MICHELOTTO   HÁ MUITO O QUE FALAR. VOU ESCREVER PARA OS ALUNOS VOU ...